Sobre o Festival de Cultura Popular e Economia Solidária da Costa Verde - Etapa Ilha Grande

Festival VITRINE CULTURAL DA COSTA VERDE trouxe uma amostra do que é a diversidade cultural da região, com shows de artistas de diferentes linguagens artísticas, desde as mais tradicionais às mais contemporâneas. Previsto para acontecer em março, na Vila do Abraão, junto com as atividades do Espaço Vitrine e do EcoBanco, teve que ser readequado para o formato virtual devido ao lockdown instituído na Ilha Grande por conta da pandemia Covid-19, neste período. Acabou acontecendo em junho, por  transmissão ao vivo pela página do Facebook do Coletivo Educação Solidária.


As atrações artísticas apresentadas no Festival foram selecionadas por meio de um chamamento público, aberto à artistas e produções culturais das artes cênicas e musicais (dança, circo, teatro, performance, contação de histórias, cena poética, manifestações de cultura popular e tradicionais) residentes e/ou sedidas na região dos 4 municípios da Costa Verde - Angra dos Reis, Itaguaí, Mangaratiba e Paraty, e seus respectivos distritos, vilas, praias, ilhas, comunidades, aldeias e quilombos. 


Para fazer a seleção, a Curadoria levou em conta aspectos relevantes que pudessem compor um mosaico artístico representativo da efervescência cultural  que vibra nas ruas, bares e palcos destas cidades, prestigiando artistas que nem sempre estão no hotspot da mídia tradicional, dando-lhes assim oportunidade e visibilidade. Teve como critérios seletivos priorizar produções vinculadas às características culturais que transmitem um diferencial de representatividade da cultura popular da Costa Verde e de coletivos, preferencilamente autogestionárias e solidários. E, como critérios de exclusão, teve ainda o olhar cuidadoso para vetar produções de conteúdo racista, LGBTQ+fóbico, político partidário e xenofóbicas, que apresentassem discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, gênero, religião ou procedência nacional. 


Todos os artistas selecionados receberam cachês advindos do recurso financeiro concedido ao projeto, via Edital Retomada Cultural da Lei Aldir Blanc, da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado do Rio de Janeiro.


A programação prevista para o Festival foi elaborada em 3 blocos, pela curadora Cláudia Andrade. Orientada pelos estilos e linguagens das apresentações selecionadas, a curadoria, as organizou dentro de um contexto dinâmico, temático e cronológico, que pudesse entreter, ao mesmo tempo que retratar um pouco da história das artes cênicas e musicais no Brasil, abordando Origens, Influências, Construção de Identidade e Contemporaneidade. 


Origens: música, dança e teatro, dos povos originários às linguagens cênicas trazidas pelos povos africanos e pelos colonizadores europeus, abre o espetáculo com as seguintes apresentações: Música e Dança do Xondaro Tangará com indígenas da Aldeia Sapukai do Bracuí, Angra dos Reis apresentando um dos rituais dos nossos povos originários,  que busca fortalecer o modo de ser Guarani Mbyiá, e representar a ligação da alma com o universo; Grupo Cultural Filhos da Marambaia mostrando a força da cultura africana que chegou ao Brasil trazendo junto com a batida dos tambores, cantos, jongo, capoeira e dança de roda, manifestações tradicionais passadas de geração a geração e apresentadas por integrantes das 90 famílias da comunidade do Quilombo da Marambaia;  Amana Soaraes, dançarina e fundadora  do  Arte Ilha – Estúdio - projeto cultural da comunidade da Vila do Abraão, Ilha Grande -,  apresentando a leveza e graciosidade do ballet, dança clásica trazida por uma bailarina russa em 1927; e Coletivo Athos,  grupo formado por 13 jovens artistas de Angra dos Reis, com a peça “Caio, antes de parir” trazendo a linguagem do teatro, manifestação artística nascida na Grécia Antiga e trazida para o Brasil no Século XVI pelos portugueses e jesuítas. 


Das origens, passamos para Identidade: a construção de uma Cultura Popular Brasileira. Neste Bloco a proposta é apresentar a diversidade de ritmos que compõem nosso dançante caldeirão musical, com as  apresentações dos artistas e grupos: Nega Piso - grupo formado por 4 mulheres moradoras de Paraty e apaixonadas pelo coco de roda, apresenta este canto-dança típico das regiões do Agreste e Sertão, surgido possivelmente durante o século XVI, oriundo das danças de umbigadas dos batuques africanos, constituindo-se uma das bases da música popular brasileira; Mundiá Carimbó, grupo idealizado por paraenses radicados na cidade de Paraty, apresentando o carimbó, uma dança cultural da região Norte que teve origem no estado do Pará durante o século XVII, a partir das danças e costumes indígenas, e de influências sonoras caribenhas; Robertinho Chagas, o versátil músico com seu cavaquinho tocando choro, ritmo criado a partir da mistura de elementos das danças de salão européias com os da música popular portuguesa e influências da música africana, surgido no Rio de Janeiro, por volta do final do século XIX; Jackson Sanfoneiro, artista caiçara da Ilha Grande, tocador de ritmos das festas populares nordestinas e de tradicionais festas religiosas, chega para fazer todos dançarem ao som da sua sanfona, instrumento trazido para o Brasil por imigrantes italianos e alemães por volta do final do século XIX e que tem em Luiz Gonzaga um de seu maiores difusores; e, Lu Ribeiro, cantora paulista radicada na Ilha Grande, voz marcante nas noites da Ilha, assim como a carioca Sigrid Sant'anna, artisticamente conhecida como Sissi, trazem as músicas com identidade brasileira, bossa nova, xote, samba, forró e MPB, cada uma no seu estilo e com repertório individual, repleto de canções compostas por grandes artistas nacionais do século XX e XXI.


Fechando o Festival, o Bloco 3: Pontos de Vista: História e Contemporaneidade pela Cena Poética  traz  poesia em versos e criações da moda afro-brasileira, com as apresentações de João Poeta do Abraão e do projeto cultural e social Omar Afro. Seu João, poeta  caiçara autodidata, desvela a realidade do paraíso onde vive com suas poesias idílicas e também de denúncia,  sobre a bela e invadida Ilha Grande. E, Omar Afro desfila na passarela da Mata Atlântica da Ilha Grande, a arte e cultura afro-brasileira com peças produzidas  por crianças, adolescentes, jovens, adultos e o pessoal da melhor idade, durante as Oficinas oferecidas pelo projeto. 


Toda esta diversidade cultural foi apresentada no Festival VITRINE CULTURAL DA COSTA VERDE (COLOCAR HIPERLINK), realizado no dia 16 de junho de 2021, transmitido pela página do Coletivo Educação Solidária no Facebook. Conduzido pelo artista e conselheiro de Cultura da Costa Verde William César, e pela nossa querida solidária Dinha Dias, guardiã do patrimônio cultural dessa região, este espetáculo virtual contou com participações ao vivo dos artistas e grupos, e exibição de clips previamente gravados e editados, especialmente para o projeto. Coordenada por Alexandra Campos, a placa mãe do Circuito, a produção contou com o apoio voluntário da grande parceira Érica Mota. E, na operação técnica desta transmissão ao vivo, viabilizada graças ao apoio da Connect que disponibilizou gratuitamente o acesso à internet, o designer das peças gráficas do Circuito, Alicio Gomes.


Mesmo realizado virtualmente, o Festival com suas potentes apresentações mostrando a riqueza cultural, ancestral e atual, que pulsa na região da Costa Verde, fez nossos corpos balançarem e movimentou a comunidade de fazedores da cultura e espectadores, aquecendo nossos corações nessas noites escuras e pandêmicas de isolamento social, vividas à época. Durante as quase 3 horas de shows, artistas e público vibraram em fina sintonia, emanando alegria e muito calor humano, ainda que à distância.  A “Live” teve um alcance de mais de 1.600 pessoas, 56 compartilhamentos e promoveu uma intensa interação com mais de 300 comentários. Emocionados pelas tocantes apresentações, o público cativo não arredou o pé de nossas redes sociais enquanto William e Dinha não se despediram, agradecendo o apoio maciço dos parceiros e platéia. Acalentados que estávamos, não percebemos o tempo passar e ficamos com o gostinho de quero mais.


Mas essa vontade pode ser saciada com o vídeo do espetáculo, disponível na página do Facebook do Coletivo Educação Solidária. Você pode também conhecer mais do trabalhos destes artistas,  visitando o  Catálogo Digital acessível aqui nesta plataforma do Circuito Fluminense de Cultura Popular e Economia Solidária da Costa Verde – Etapa Ilha Grande.

  

Somos só gratidão aos artistas e parceiros que toparam o desafio! Que venham os próximos.


Assista o Festival Vitrine Cultural aqui!